segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Luzia I


Há uma rua acesa:
Atrás de minhas pupilas:
paisagem abrasada:
limpa, de todo:
Higienizada:
Eu a percorro:
como quem não quer nada:
medindo tua presença:
Mulher iluminada

sábado, 13 de novembro de 2010

O vôo de H.


Sai A rua invade seu corpo Cada partícula de luz som e lixo violentando suas entranhas Passos mínimos quase um deslizar na calçada Num chão encardido cachorros e homens É como se não lembrasse mais dessas coisas exatas da cidade. Uma menina quase nua, boca sem dentes, olhos grandes e líquidos, cabelos emaranhados em negrume.

- Dá um real, moço. É o balbúcio da criança

Ele treme. Pára.

- Vamos, é só uma vagabunda.

Foi um leve susto, ouvir a voz ao seu lado e lembrar que durante todo o tempo estavam ali, passos parelhos aos seus, as mesmas figuras inexatas, guardando-o. Guardando-o do quê? Percebe que está andando de novo, a menina de olhos d’água ficou para trás. Esqueceu-a. Eles ao seu lado. Por que não falam mais? Esse véu de silêncio, coisa disforme pesando sobre as cabeças curvadas, a conduzi-los não se sabe para onde, talvez onde o nada sonoro seja apenas água estagnada, poça onde se afoguem, solidão. Parece que se deram conta da gravidade das coisas e do que vão fazer. Agora tudo é solene. Caminham.

***

A estrutura de concreto cresce à sua frente. Seu corpo vibra. Estancou.

- Deve ser o mais alto.

- Isso é loucura.

Ignora as vozes vazias, que todos vão à merda com sua censura. Nunca entenderiam. Volta a andar, em sua mente também desfilam as lembranças...

-... Sete meses de vida...

Daquela conversa com o médico, só gravara aquele fragmento. Recebeu-o como um soco no meio da cara, diante de si um velho de branco, olhos breves sob sobrancelhas sumidas na face alva. Esperou a morte, temeu a dor, mas não fugiu. Leito de hospital Inércia Gemidos suspiros cheiro de morte e uma paisagem branca anulada Todas as noites de sua vida condensadas num quarto azul mesa sem flores janela sempre fechada no teto uma flor de metal girando girando girando...

Uma noite, quando a escuridão foi mais forte, sentiu um abraço esquálido ossos a envolver-lhe o corpo parco falanges esmagando seus tumores gritou de sua boca saíam as coisas mais improváveis: guarda-chuva girassol um quadro de Mondrian televisores e um morcego amarelo. 40 graus de febre e breu.

Quando a manhã lhe despertou, sentiu o corpo como não sendo seu, foi um prazer, algo novo em suas sensações. Seria aquilo a ressureição? Fruto de um milagre naquela manhã distante?

- E aí vai entrar ou não?

Novamente eles o despertam. Desta vez encara os rostos vazios, mas não tem nada para dizer.

- Quer mesmo fazer isso?

Volta a andar, sem encontrar a resposta. Entra no Hall. Silêncio. No elevador faz sinal para que os outros fiquem. Querem protestar Fecha a porta sobe.

No alto, seus olhos perdem-se no azul. Pela primeira vez consegue um pensamento lúcido, tão neutro e branco como as únicas nuvens nesse céu. Agora não há mais lembranças, todas se fundiram, o tempo se fecha numa esfera de vidro, a cidade é apenas a coisa mais suspensa deste momento. Lá embaixo os outros, esperando. O que farão? Não importa, tem plena convicção de sua loucura e da vida. Seu vôo sobre as coisas é o mais intenso até o fim. Pousou.

O segundo seguinte chega com lágrimas. Por que está chorando? Nunca fora homem de sentimentos. Acreditava em milagres? Talvez tenha sido um milagre. Enxuga o rosto e ainda não sabe por que chora. Pela primeira vez desde tantas horas os ares recebem o fio de sua voz, um sopro carregado de vergonha, um segredo que flutua enquanto ele olha para cima:

- Obrigado !

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O Bailar da Cidade


Ela

não dança tão bem

samba

frevo

forró

Igarassu não é de Junhos e Fevereiros

Recife

Caruaru

Rio de Janeiro

Talvez o passo lerdo de um xote,

... o baque do maracatu?

ou o religioso dos franciscanos,

se o palco fosse permitido a eles,

embalado pelo canto gregoriano

Safadezas do Canavial


Daqui

assisto a cana

fazer par com o vento numa contra dança,

menos dança

que sem-vergonhice ao ar livre,

Se o vento,

entre cada passo,

abraça

lambe

roça

pesa seu corpo sobre o corpo dela

e quase lhe desveste

as saias de palha

não agride, soca, os olhares mais pudicos?

libertinagens da cana

Numa dança

só daqui

Igarassu, Araçoiaba, Goiana

terça-feira, 26 de outubro de 2010


Ao querido companheiro

Relampejar e
duelo de arrancar...
homem,
das faíscas
que emergem e
explodem no trabalho
exijo a dizer.
sou pé sujo
sob a poça de suor.

Leandro Pedrosa

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Teoria da Composição Pós-moderna

O poeta se tranca
em seu quarto de mil portas
protegidas por mil senhas
e sistemas de alarme

depois puxa o zíper em suas costas,
desveste a pele,
ficando nu ante seus espelhos,

assim, carnes à mostra,
admirando seu umbigo

fotografa-se digitalmente

*

Outro liga sua máquina copiadora
e espera, tímido funcionário,
que ela cuspa a poesia-fotocópia,
tão rápida quanto inexata

*

Outro ainda, entra
em banheiro,
defeca sua poesia mal digerida
e com mãos de padeiro
vai dando forma
a essa massa de merda

*

Outro poeta artesão,
este mais raro, pois anula a máquina,
só permite sua mão,
busca exata,

é em câmera lenta,
avesso à construção automática,
à poesia foto instantânea,
ao verso de funcionário,
à desinteria grave

Não vem da linha de produção
ou dos intestinos sua arte,
mas do querer mostrar por seu olhar

o invisível...

*

Um quinto poeta, sozinho em seu quarto, ao ver todos esses na tela do computador correu à janela,

e jogou-se do décimo nono andar

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Nasceu Movimento NAUVOADORA!!!!


É sempre em êxtase
que se compartilham grandes momentos.
Abri essa postagem para falar de minha alegria
ao participar hoje da fundação de um movimento
que com certeza significará um novo momento para a literatura em Igarassu.
NAUVOADORA
- Nome de minhas primeiras tentativas na poesia
- Nome de uma iniciativa revolucionária
Dupla Felicidade
A Edvan Senhorinho, companheiro poeta, outro idealizador deste momento devo esta alegria,
este momento esperançoso.
E convido os olhares incansáveis, ávidos por palavras
a se abrirem sobre as viagens de nossas Naus-Poesias-voadoras, seja em longas alturas de sonho ou muito ligadas ao exato chão da lucidez.

P.S.O blog do movimento estará disponível em breve.

Poemas Empedrados ou Quatro vozes sobre a Pedra




Para Leandro Pedrosa e sua "Pedra na Pista"
1.
Provoca-me a pedra,
impele-me a pedrar,
percorro-a então, pedra
buscando seu medrar,
abrindo exata pedra,
na pedra de empedrar,
densa em si, pedra,
pedra de amolar

Inerte não é a pedra
mas tenso o seu pedrar,
é pedra que brota pedra,
que já sabe o medrar
e guarda na sua pedra
a essência do empedrar
o pulsar, de pedra,
do meu pensar, amolar
2.
Intensa é a pedra,
num áspero pedrar,
ao conter na pedra
um explodir do medrar,
mas presa, a pedra,
no seu empedrar
silencia, torna pedra,
o verso de amolar

Secreta é a pedra,
se, prisioneira, pedrar
pois dentro de cada pedra
há sempre novo medrar
que procura, em pedra,
a quem empedrar
que se forma, na pedra,
poema de amolar
3.
As vidas de pedra
fruto do petrificar,
são vidas duras, pedra,
empedernidas no brotar
da pedra de outras, pedra,
da pedra de habitar,
daquilo que forma a pedra
e completa seu aguçar

Se a vida é pedra
em pétreo petrificar,
nascemos completa pedra
ou só depois do brotar
em vida concreta, pedra,
deixa-se habitar
por pedra que sendo, pedra,
não se anule do aguçar
4.
Na paisagem só pedra,
ou do livre petrificar,
se conhece a pedra
ao vê-la no chão brotar,
aquilo que vem, pedra,
no homem habitar
é pedra que o faz, pedra,
instrumento de aguçar

O homem aguça, pedra,
todo o seu petrificar
ao afirmar a pedra
e deixá-la por si brotar,
comforma-se com a pedra,
ao permitir seu habitar,
nas entranhas da vida, pedra,
sempre a aguçar, amolar

João, Maria e a Fome


Degustaria a maciez de fruta
em Maria,
se não insistisse em tecer
lençol de gestos e carícias,
para preservar-lhe as carnes de fruta,
alimentando sono, fome
e espera

A fruta, quando no cio
aguarda dentes que a triturem,
quer perder-se nos movimentos da língua,
desmanchar-se na boca,
ser engolida, brutalmente

Então anule nela
a fome de anular a fome,
mas permita ainda
uma folha de fome,
resto sem forma, de desejo
formando-se fruta, novamente, recomeço de fome

Maria provoca, agride, esperando revide

Ele, continua tecendo seu lençol...

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Olhares sobre Tereza




Meu tato na retina
arrepia ao tocar-te;

Meu paladar na retina,
lingua, que te percorre;

Meu ouvido na retina
percebe, pluma, tua voz;

Meu olfato na retina
aspira-te a cor, as curvas;

A retina na retina
ao mirar-te, por dentro,
condensa na retina
meus olhares, devoro-te
em todos os sentidos

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Opinião

(...) Retomo a poesia de Jonatas Onofre. Uma poesia lúdica, com claras referências a João Cabral de Melo Neto, com uma pitada de Drummond, mas também com essência "onofreana". O poema "A Chave", é pura metalinguagem: " Poema se desvenda verso / e número: na estrutura / firme, medida ( construção / em estrofes e versos claros) / neste se parecer com casa / cheia de quartos, salas, portas. / Neste precisar claramente / de chave para abrir seus cômodos / (...)". É inevitável ler estes versos e pegar o grande segredo do desvendamento desta casa chamada poesia: a chave. É com ela que abro o mundo das palavras. Segundo Drummond lá "tem mil faces sob a face neutra e te pergunta sem interesse pela resposta pobre ou terrível que lhe deres: trouxeste a chave?". Como se isso não fosse o bastante, Jonatas Onofre foi ainda "catar seu feijão" e escreveu " A máquina de Johannes" outro poema pautado na temática do fazer poético: "montou peça por peça máquina / exata, clareza medida / no controle sobre o dizer, / na tranquilidade do fazer (...)". As faces de Jonatas Onofe vão sempre mais além. A temática da morte num contraste interessante no poema "Dialética de uma morte" o qual faz a violência representada por um projétil que sai do cano de um revólver numa "devagar rapidez" que atinge o leitor e que a vida representa o "sim" e o chumbo o "não". Segundo Aristóteles em sua Poética, "nós olhamos, contemplamos com prazer as imagens mais exatas daquelas coisas que olhamos com repugnância", é o que acontece nos versos: "ocorre o embate (sim-não): / O sim operário - José - / miolos a mostra já morto / estendido no meio fio". Assim como a personificação no poema " No Coletivo" que na realidade não sabemos até que momento ele fala do ônibus como meio de transporte lotado e onde o ônibus é o próprio eu-poético.
( trecho do texto "Fazer poesia hoje" de Isaac Melo )

A tecla Enter


Essa suspensão,

pulsar do cursor

no final da linha

antes do ponto

cortando meu verso

na tela da máquina;

do teu salto reto

cavalgando o verso

à próxima linha;

é a mesma tensão

do verso de antes,

do antes do verso,

do verso bulindo-me

por dentro, pedindo

as medidas, fôrmas

e o corte lúcido

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O Mangue


- É na lama: idéia constante

do mangue, em sua fina lã

de enredar-se que reside

o húmus lúcido-secreto

nada espontâneo (presente)

mas à espera do trabalho

de pescador (labor, cansaço)

a que o poeta é lançado.

E necessário ofício,

sem sono (noite, negridão)

é que consome o pescador-

poeta, Com a precisão

da claridade viva no dia

e no mangue, e na lama negra

ele extrai a lucidez,

a força do seu vivo verso





- Igarassu é para o mangue

a fruta por dentro, completa

e mineral - exterior

recanto - na casca de pedra.

Também é a boca: devora

sua semente; é a fronteira

entre lama, cinza, escuro

e pedra, verde, claridade;

é prosaico no poema,

o discurso em vez do canto,

neste plantar foi a cidade

quem em seu centro germinou

sendo tema do texto-mangue,

obsessão do poeta-sujo,

paixão do frio pescador

e fogo para cada verso.





- O mangue é o gerador,

produz a paisagem mortal:

labirintos de fina raiz,

caminhos diversos, distantes,

cheiros fortes e voadores,

com incompletude em tudo

falsa, enganadora, frágil -

mentira -. Mangue que é fábrica,

que é reino, é o verdor

e a sujidade; na verdade

encontrando-se mangue e pedra,

chocam-se dois mundos e tempos:

A pedra ou imobilidade

da cidade: solução clara.

O verde-negro manguezal:

a dinâmica do mistério.





Aratus, guaiamuns, caranguejos

e siris: a vida do mangue

na verde essência do lameiro,

bichos que se fixam na rede

da lama para o seu pescar

inspirando o pescar - covarde -

de outro bicho da negra lama

que nela se funde e vive:

o homem sempre pescador.

E nas veredas deste reino

repletas de ciladas, mortes

escondidas no elemento

máximo de fertilidade

caminha o pescador-poeta

sem medo procura na lama

a lógica real do poema.



sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Dialética de uma morte


- A bala que matou José,

antes de estourar-lhe o crânio,

de ser vôo denso, projétil,

fazer-se morte endereçada




manteve seu corpo inerte,

metal no metal do revólver

esperando seu explodir,

seu abrir viagem projetada




- Consistiu de duas viagens,

em viagens-ímãs, opostas,

atraindo-se vida-morte,

num aproximar-se do choque




- Uma viagem fez José

e foi a do sim, afirmar-se:

a do trabalho, de operário,

lado positivo do ímã,




de manter-se, sobreviver-se:

jornada em nada fantástica

por ser diário seu correr

e por ser José só mais um



- Outra viagem fez a bala

no negativo do metal,

busca do nada, do negar-se

o positivo em José



só concretizada na morte,

na negação maior, total,

na finalidade de bala:

levar o fim de José



- Ele despede-se na rua,

Ela explode metal em vôo,

Ele caminha com um sim,

Ela contem em si um não



Ela sai de um tiroteio,

Ela da casa resumida,

Ela deslizando veloz,

Ele tranquilo. Sem atraso



- Ocorre o embate (sim-não):

O sim operário - José -

miolos à mostra já morto

estendido no meio fio,



o não,limpo, reproduzido

em José na poça de sangue,

no cenário vazio, lúcido,

na bala dentro de seu cérebro



- Os dois completos num só corpo,

fundidos no próprio desfecho:

Na negação - afirmação,

fim do homem ou recomeço

No coletivo


O tomar-se, entrar-se ônibus,
abrir-se risco de contato,
é sempre tensão resumida
num medo, calado no íntimo,


De jogar-se no coletivo,
mergulhar-se nos outros, dar-se
ao toque e assim afogar-se,
imergir-se por entre outros;


De mirar-se no coletivo
e mirando-se refletri-se,
encandear-se nos espelhos
que são os outros; De lançar-se


num pele contra-pele, rasgar-se
nos outros, esfolar-se todo;
Deformar-se no coletivo,
gastar-se, fundir-se nos outros

Marco de Pedra


Fronteira, limite, final

entre mar e terra é linha

de pedra: ruína do tempo.

à margem os homens da lama,

do mangue (à margem do marco

como se fosse a própria pedra

de suas vidas em lamaçal

atolada), do natural.

Entre mar e terra é linha

e demarca a própria ruína

na praia (quando da baixa

das águas) mostrando fedor

nos restos do tempo: nas pedras

centenárias, na areia pisada,

nas casas simples: resumidas,

no homem dali, na sua vida

de pedra: ruína do tempo.

Marco de pedra paragem

sombria, localidade triste,

(mergulho na negra maré)

melodia seca dentro, N`água,

o lugar secreto, perdido

por outros homens (não da lama)

da cidade sua: Igarassu,

à margem os homens da lama,

homens da pedra, da diversa

fronteira, no esquecimento

deste lugar finalizados

e no final, limite, fronteira

é linha entre mar e terra

é ruína do tempo: pedra

à margem do marco de pedra.

Canavial


O vento na cana

e o ritmo das flexas

no balanço fino

do canavial.


Maresia verde,

pura. Dançarina

cana enlaçada

ao vento pesado.


no solo fincado

(pé indelicado)

é firme vergar-se

o dançar fechado


da cana ( fusão

de verdes) ficção

de movimentos.

No inexato solo


onde fixa é

a dança e o tempo,

a pedra e a foice,

a casa e o homem,


onde viva foi

a mata ( agora

devastada), o rio

(hoje sufocado),


outro homem(morto)

e mais fixa é

viva cana forte

pois engoliu tudo


no seu espraiar-se

em canavial

mar: corte perfeito,

limpo, veloz. Morte

Imagens do Tabatinga


Correnteza fina:

às margens flutuam

os restos do rio.

E peixes afoitos



-piabas e guarus-

afloram na linha

d`água. Passarelas

de mato cobrindo



a corrida riacho

mentem o murchar-se

do fluxo ardente

em tímido fio



que quase parando

escorrega manso

entre sufocantes

margens. Já cansado



de sua caminhada

longa, encerrando

na clausura (bordas

de seu caminhar



no próprio caminho

que é) este sempre

novo correr lento

de rio indolente.



Do poeta não

conhecer o rio

desde seu cair

nascente - firmeza -



só saber o rio

preguiçoso, parvo

em sua indefesa,

rio assassinado



É o mostrar trágico

do morto-vivaz

em paradoxal

condição: palavra.



Mas já conheceu

o poeta rio

lógico no simples

correr-correnteza



( o mesmo que hoje

suicida cadáver

quase, enlouquece

em lenta jornada)



num ritmo de salto

das linhas - em curso,

correnteza - enxutas:

rio em madureza.



Olhado, porém,

em margem diversa

ou sem margem (só

a enchente do rio



transborda nas beiras

corrida veloz)

trorna-se verdade

n´água seu enterro

Nau-Açu


I



Ao abrir-se ( pois é


Afiado fio, lâmina:


Produto do ofício


Nascido da lógica


em mente artesã),


É tema vibrante


Retido nas linhas,


Urdidura breve


Tecida em firmeza


(Para ser prisão),


Verso matemático


(Para ser porto)


Onde, pois segura,


Descanse a palavra




Ao abrir-se na mente


Fere mais profundo


Pois é afiada


Esta arma branca.


E a penetração,


Talvez com mais dor,


Seja (completude)


O clímax da luta


poeta-leitor,


(ferido de morte


Aquele que lê)


Penetrada a carne


Com o texto lâmina:


Poema mortal


II


Ao fechar-se verso


É reino hermético


Reino criticado.


Mas não vem fantástico


Este verso sujo


E imaturo, rustico.


Vem da clareza,


Do trabalho, busca.


Vem ( grande labor)


Da luta poeta-


Poeta, da luta


Poeta-poema


(quase que indomável)


Que é mais complexa




Ao fechar-se nau


Na mente cradora


É longo caminho,


Estreita vereda


No mar cerebral.


É a folha branca


Aguardando o verso:


Desafio diário.


É a construção


Desenhada, clara


Desta nau poesia


Criada em angústia,


Frieza, cansaço


E ardente ferida


A chave


O segredo do cerebral


Poema se desvenda verso


E número: na estrutura


Firme, medida ( construção


Em estrofes e versos claros)


Neste se parecer com casa


Cheia de quartos, salas, portas.


Neste precisar claramente


De chave para abrir seus cômodos


De poema - complexo prédio.


Tema também em matemática


Condição. O segredo aberto


Da chave ( lúcida leitura):


Lúcida planta da poesia

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Manchetes Nulas



Para Maria Eduarda




Quando estourar primeira página
No teu digitar, jornalista,
Quero que colhas nulidade
Nos excessos da tua cidade


Sejam manchetes desnudas
Aquelas vidas do silêncio
Aquelas nunca reveladas,
Expansivas em anular-se


E que desvendas as camadas
No reluzir-se do real;
Que não temas esse mostrar-se,
Esse despir-se da notícia;


Que teu texto seja a sintaxe
Acima da propícia prosa,
Mas que não percas o teu corte,
Corte de anular-se existências

A máquina de Johannes


Ao lembrar-me do gênio de Bach


Montou peça por peça máquina
Exata, clareza medida
No controle sobre o dizer,
Na tranquilidade do fazer


E no dispor das engrenagens,
Âmago do movimentar-se
De seu produto musical:
Notas em melodia.


Essa qualidade de fábrica,
De sua música fabricada
Não lhe concede ser estéril
Ou lhe torna a máquina nula


Antes por ser trabalho, busca
Na manhã lúcida, solar,
Por resultar em só sua arte,
É sólido som fabricado