terça-feira, 26 de outubro de 2010


Ao querido companheiro

Relampejar e
duelo de arrancar...
homem,
das faíscas
que emergem e
explodem no trabalho
exijo a dizer.
sou pé sujo
sob a poça de suor.

Leandro Pedrosa

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Teoria da Composição Pós-moderna

O poeta se tranca
em seu quarto de mil portas
protegidas por mil senhas
e sistemas de alarme

depois puxa o zíper em suas costas,
desveste a pele,
ficando nu ante seus espelhos,

assim, carnes à mostra,
admirando seu umbigo

fotografa-se digitalmente

*

Outro liga sua máquina copiadora
e espera, tímido funcionário,
que ela cuspa a poesia-fotocópia,
tão rápida quanto inexata

*

Outro ainda, entra
em banheiro,
defeca sua poesia mal digerida
e com mãos de padeiro
vai dando forma
a essa massa de merda

*

Outro poeta artesão,
este mais raro, pois anula a máquina,
só permite sua mão,
busca exata,

é em câmera lenta,
avesso à construção automática,
à poesia foto instantânea,
ao verso de funcionário,
à desinteria grave

Não vem da linha de produção
ou dos intestinos sua arte,
mas do querer mostrar por seu olhar

o invisível...

*

Um quinto poeta, sozinho em seu quarto, ao ver todos esses na tela do computador correu à janela,

e jogou-se do décimo nono andar

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Nasceu Movimento NAUVOADORA!!!!


É sempre em êxtase
que se compartilham grandes momentos.
Abri essa postagem para falar de minha alegria
ao participar hoje da fundação de um movimento
que com certeza significará um novo momento para a literatura em Igarassu.
NAUVOADORA
- Nome de minhas primeiras tentativas na poesia
- Nome de uma iniciativa revolucionária
Dupla Felicidade
A Edvan Senhorinho, companheiro poeta, outro idealizador deste momento devo esta alegria,
este momento esperançoso.
E convido os olhares incansáveis, ávidos por palavras
a se abrirem sobre as viagens de nossas Naus-Poesias-voadoras, seja em longas alturas de sonho ou muito ligadas ao exato chão da lucidez.

P.S.O blog do movimento estará disponível em breve.

Poemas Empedrados ou Quatro vozes sobre a Pedra




Para Leandro Pedrosa e sua "Pedra na Pista"
1.
Provoca-me a pedra,
impele-me a pedrar,
percorro-a então, pedra
buscando seu medrar,
abrindo exata pedra,
na pedra de empedrar,
densa em si, pedra,
pedra de amolar

Inerte não é a pedra
mas tenso o seu pedrar,
é pedra que brota pedra,
que já sabe o medrar
e guarda na sua pedra
a essência do empedrar
o pulsar, de pedra,
do meu pensar, amolar
2.
Intensa é a pedra,
num áspero pedrar,
ao conter na pedra
um explodir do medrar,
mas presa, a pedra,
no seu empedrar
silencia, torna pedra,
o verso de amolar

Secreta é a pedra,
se, prisioneira, pedrar
pois dentro de cada pedra
há sempre novo medrar
que procura, em pedra,
a quem empedrar
que se forma, na pedra,
poema de amolar
3.
As vidas de pedra
fruto do petrificar,
são vidas duras, pedra,
empedernidas no brotar
da pedra de outras, pedra,
da pedra de habitar,
daquilo que forma a pedra
e completa seu aguçar

Se a vida é pedra
em pétreo petrificar,
nascemos completa pedra
ou só depois do brotar
em vida concreta, pedra,
deixa-se habitar
por pedra que sendo, pedra,
não se anule do aguçar
4.
Na paisagem só pedra,
ou do livre petrificar,
se conhece a pedra
ao vê-la no chão brotar,
aquilo que vem, pedra,
no homem habitar
é pedra que o faz, pedra,
instrumento de aguçar

O homem aguça, pedra,
todo o seu petrificar
ao afirmar a pedra
e deixá-la por si brotar,
comforma-se com a pedra,
ao permitir seu habitar,
nas entranhas da vida, pedra,
sempre a aguçar, amolar

João, Maria e a Fome


Degustaria a maciez de fruta
em Maria,
se não insistisse em tecer
lençol de gestos e carícias,
para preservar-lhe as carnes de fruta,
alimentando sono, fome
e espera

A fruta, quando no cio
aguarda dentes que a triturem,
quer perder-se nos movimentos da língua,
desmanchar-se na boca,
ser engolida, brutalmente

Então anule nela
a fome de anular a fome,
mas permita ainda
uma folha de fome,
resto sem forma, de desejo
formando-se fruta, novamente, recomeço de fome

Maria provoca, agride, esperando revide

Ele, continua tecendo seu lençol...

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Olhares sobre Tereza




Meu tato na retina
arrepia ao tocar-te;

Meu paladar na retina,
lingua, que te percorre;

Meu ouvido na retina
percebe, pluma, tua voz;

Meu olfato na retina
aspira-te a cor, as curvas;

A retina na retina
ao mirar-te, por dentro,
condensa na retina
meus olhares, devoro-te
em todos os sentidos