sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Teoria da Composição Pós-moderna

O poeta se tranca
em seu quarto de mil portas
protegidas por mil senhas
e sistemas de alarme

depois puxa o zíper em suas costas,
desveste a pele,
ficando nu ante seus espelhos,

assim, carnes à mostra,
admirando seu umbigo

fotografa-se digitalmente

*

Outro liga sua máquina copiadora
e espera, tímido funcionário,
que ela cuspa a poesia-fotocópia,
tão rápida quanto inexata

*

Outro ainda, entra
em banheiro,
defeca sua poesia mal digerida
e com mãos de padeiro
vai dando forma
a essa massa de merda

*

Outro poeta artesão,
este mais raro, pois anula a máquina,
só permite sua mão,
busca exata,

é em câmera lenta,
avesso à construção automática,
à poesia foto instantânea,
ao verso de funcionário,
à desinteria grave

Não vem da linha de produção
ou dos intestinos sua arte,
mas do querer mostrar por seu olhar

o invisível...

*

Um quinto poeta, sozinho em seu quarto, ao ver todos esses na tela do computador correu à janela,

e jogou-se do décimo nono andar

2 comentários:

  1. gostei mto Jonatas. essa coisa toda de 'processo de criação' é hoje mais ou menos isso mesmo. tem gente que cria todo um cenário fazendo com que tenha uma coisa incrivel, outros fazem parecer a coisa mais simples do mundo, mais elementar, mais... enfim. gostei mto mesmo.

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  2. O essencial é invisível aos olhos.
    Palmas para você que me fez desacreditar que apenas nós mulheres somos tão sensíveis a ponto de nos expressarmos sem dizer palavras, apenas com o olhar...
    é dessa sensibilidade contida na alma do poeta que nós seres humanos necessitamos para pôr em prática o que Jesus ensinou:
    "Ama ao teu próximo como a ti mesmo"

    :*

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