- A bala que matou José,
antes de estourar-lhe o crânio,
de ser vôo denso, projétil,
fazer-se morte endereçada
manteve seu corpo inerte,
metal no metal do revólver
esperando seu explodir,
seu abrir viagem projetada
- Consistiu de duas viagens,
em viagens-ímãs, opostas,
atraindo-se vida-morte,
num aproximar-se do choque
- Uma viagem fez José
e foi a do sim, afirmar-se:
a do trabalho, de operário,
lado positivo do ímã,
de manter-se, sobreviver-se:
jornada em nada fantástica
por ser diário seu correr
e por ser José só mais um
- Outra viagem fez a bala
no negativo do metal,
busca do nada, do negar-se
o positivo em José
só concretizada na morte,
na negação maior, total,
na finalidade de bala:
levar o fim de José
- Ele despede-se na rua,
Ela explode metal em vôo,
Ele caminha com um sim,
Ela contem em si um não
Ela sai de um tiroteio,
Ela da casa resumida,
Ela deslizando veloz,
Ele tranquilo. Sem atraso
- Ocorre o embate (sim-não):
O sim operário - José -
miolos à mostra já morto
estendido no meio fio,
o não,limpo, reproduzido
em José na poça de sangue,
no cenário vazio, lúcido,
na bala dentro de seu cérebro
- Os dois completos num só corpo,
fundidos no próprio desfecho:
Na negação - afirmação,
fim do homem ou recomeço
Poderia comentar qualquer um de seus belíssimos poemas, Jonatas! Escolhi esse por ele ser, simplesmente, encantador! Você une a poesia marginal à "sentimentalista", porque ao mesmo tempo em que vejo uma realidade, nua e crua, eu sinto. Parabéns pelas belas construções! Beijo!
ResponderExcluirÉ uma vertigem sem limite ter-te aos versos em minha frente. Eis que a brutalidade conota a pluralidade em suas palavras... que seria do homem sem o vôo que o une à vida: a morte? e desta morte, tão mesquinha, tão comum, é a condição humana estereotipada, alada em seus versos urbanos... Que imagens, a catástrofe, a representação do real de forma tão crua... Luz sempre caro amigo-poeta
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