quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O Mangue


- É na lama: idéia constante

do mangue, em sua fina lã

de enredar-se que reside

o húmus lúcido-secreto

nada espontâneo (presente)

mas à espera do trabalho

de pescador (labor, cansaço)

a que o poeta é lançado.

E necessário ofício,

sem sono (noite, negridão)

é que consome o pescador-

poeta, Com a precisão

da claridade viva no dia

e no mangue, e na lama negra

ele extrai a lucidez,

a força do seu vivo verso





- Igarassu é para o mangue

a fruta por dentro, completa

e mineral - exterior

recanto - na casca de pedra.

Também é a boca: devora

sua semente; é a fronteira

entre lama, cinza, escuro

e pedra, verde, claridade;

é prosaico no poema,

o discurso em vez do canto,

neste plantar foi a cidade

quem em seu centro germinou

sendo tema do texto-mangue,

obsessão do poeta-sujo,

paixão do frio pescador

e fogo para cada verso.





- O mangue é o gerador,

produz a paisagem mortal:

labirintos de fina raiz,

caminhos diversos, distantes,

cheiros fortes e voadores,

com incompletude em tudo

falsa, enganadora, frágil -

mentira -. Mangue que é fábrica,

que é reino, é o verdor

e a sujidade; na verdade

encontrando-se mangue e pedra,

chocam-se dois mundos e tempos:

A pedra ou imobilidade

da cidade: solução clara.

O verde-negro manguezal:

a dinâmica do mistério.





Aratus, guaiamuns, caranguejos

e siris: a vida do mangue

na verde essência do lameiro,

bichos que se fixam na rede

da lama para o seu pescar

inspirando o pescar - covarde -

de outro bicho da negra lama

que nela se funde e vive:

o homem sempre pescador.

E nas veredas deste reino

repletas de ciladas, mortes

escondidas no elemento

máximo de fertilidade

caminha o pescador-poeta

sem medo procura na lama

a lógica real do poema.



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