- É na lama: idéia constante
do mangue, em sua fina lã
de enredar-se que reside
o húmus lúcido-secreto
nada espontâneo (presente)
mas à espera do trabalho
de pescador (labor, cansaço)
a que o poeta é lançado.
E necessário ofício,
sem sono (noite, negridão)
é que consome o pescador-
poeta, Com a precisão
da claridade viva no dia
e no mangue, e na lama negra
ele extrai a lucidez,
a força do seu vivo verso
- Igarassu é para o mangue
a fruta por dentro, completa
e mineral - exterior
recanto - na casca de pedra.
Também é a boca: devora
sua semente; é a fronteira
entre lama, cinza, escuro
e pedra, verde, claridade;
é prosaico no poema,
o discurso em vez do canto,
neste plantar foi a cidade
quem em seu centro germinou
sendo tema do texto-mangue,
obsessão do poeta-sujo,
paixão do frio pescador
e fogo para cada verso.
- O mangue é o gerador,
produz a paisagem mortal:
labirintos de fina raiz,
caminhos diversos, distantes,
cheiros fortes e voadores,
com incompletude em tudo
falsa, enganadora, frágil -
mentira -. Mangue que é fábrica,
que é reino, é o verdor
e a sujidade; na verdade
encontrando-se mangue e pedra,
chocam-se dois mundos e tempos:
A pedra ou imobilidade
da cidade: solução clara.
O verde-negro manguezal:
a dinâmica do mistério.
Aratus, guaiamuns, caranguejos
e siris: a vida do mangue
na verde essência do lameiro,
bichos que se fixam na rede
da lama para o seu pescar
inspirando o pescar - covarde -
de outro bicho da negra lama
que nela se funde e vive:
o homem sempre pescador.
E nas veredas deste reino
repletas de ciladas, mortes
escondidas no elemento
máximo de fertilidade
caminha o pescador-poeta
sem medo procura na lama
a lógica real do poema.
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