(...) Retomo a poesia de Jonatas Onofre. Uma poesia lúdica, com claras referências a João Cabral de Melo Neto, com uma pitada de Drummond, mas também com essência "onofreana". O poema "A Chave", é pura metalinguagem: " Poema se desvenda verso / e número: na estrutura / firme, medida ( construção / em estrofes e versos claros) / neste se parecer com casa / cheia de quartos, salas, portas. / Neste precisar claramente / de chave para abrir seus cômodos / (...)". É inevitável ler estes versos e pegar o grande segredo do desvendamento desta casa chamada poesia: a chave. É com ela que abro o mundo das palavras. Segundo Drummond lá "tem mil faces sob a face neutra e te pergunta sem interesse pela resposta pobre ou terrível que lhe deres: trouxeste a chave?". Como se isso não fosse o bastante, Jonatas Onofre foi ainda "catar seu feijão" e escreveu " A máquina de Johannes" outro poema pautado na temática do fazer poético: "montou peça por peça máquina / exata, clareza medida / no controle sobre o dizer, / na tranquilidade do fazer (...)". As faces de Jonatas Onofe vão sempre mais além. A temática da morte num contraste interessante no poema "Dialética de uma morte" o qual faz a violência representada por um projétil que sai do cano de um revólver numa "devagar rapidez" que atinge o leitor e que a vida representa o "sim" e o chumbo o "não". Segundo Aristóteles em sua Poética, "nós olhamos, contemplamos com prazer as imagens mais exatas daquelas coisas que olhamos com repugnância", é o que acontece nos versos: "ocorre o embate (sim-não): / O sim operário - José - / miolos a mostra já morto / estendido no meio fio". Assim como a personificação no poema " No Coletivo" que na realidade não sabemos até que momento ele fala do ônibus como meio de transporte lotado e onde o ônibus é o próprio eu-poético.
( trecho do texto "Fazer poesia hoje" de Isaac Melo )