Foi como a imagem da pedra varando a face das águas. Primeiro o impacto e os respingos, ritmo de explosão reversa, escultura deliquescente disforme dilatada dentro do segundo exato do choque. Depois os círculos vibrando na pele líquida, e os minutos se espraiando em ondas. Foi como um lago que se deixa percorrer pelo arrepio da pedra no fundo, pesando sua fundura inerte. Ao tempo que as correntes não calam em sua prisão desce um correr fluxo, sentido, vereda. Bifurcação infinita de setas, sinais, signos e constelações no espelho das águas e elas passando, rolando sobre suas próprias longas sendas. A pedra e as águas represadas. Foi assim a Nau em busca dos foras do porto, dos longes em cima de linhas de horizonte, das longitudes do enigma da noite. Foi assim que a cidade tornou-se o próprio rio, ressinificando Jussara na liturgia da tribo devastada e Domingos no calendário dos altares de ouro e prata. Foi a ladeira aplanando como a linha da folha, como o risco da letra I sendo golpe primeiro na tela. Foi o olho do espanto escancarando em cancela e cílios sendo dentes pelos de pavor desurdidos. Foi o som perdendo abóbadas entre pingos, nuvens e lamparinas apartadas no negro silêncio de além-atmosferas. A corda vibrando sob a unha, a tecla espancada nas escalas, a voz escarrada na calçada. O compasso quebrando nas quiálteras e no composto das pisadas. Foi a voz do rosto em cada um dizendo tudo do cansaço à fome de baralhar versos entre dados adulterados, entre lavras de insepultos versificados cantos entre as pedras. Foi o pé na madeira, o som nos ventos, a luz nas lentes, a palavra entre dentes. Foi a garrafa arremessada nas laterais negras da embarcação e ela largando das tábuas do mundo, da pedra, da folha. Eu vi. Eis.
Agosto de 2013
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