O poeta se tranca
em seu quarto de mil portas
protegidas por mil senhas
e sistemas de alarme
depois puxa o zíper em suas costas,
desveste a pele,
ficando nu ante seus espelhos,
assim, carnes à mostra,
admirando seu umbigo
fotografa-se digitalmente
*
Outro liga sua máquina copiadora
e espera, tímido funcionário,
que ela cuspa a poesia-fotocópia,
tão rápida quanto inexata
*
Outro ainda, entra
em banheiro,
defeca sua poesia mal digerida
e com mãos de padeiro
vai dando forma
a essa massa de merda
*
Outro poeta artesão,
este mais raro, pois anula a máquina,
só permite sua mão,
busca exata,
é em câmera lenta,
avesso à construção automática,
à poesia foto instantânea,
ao verso de funcionário,
à desinteria grave
Não vem da linha de produção
ou dos intestinos sua arte,
mas do querer mostrar por seu olhar
o invisível...
*
Um quinto poeta, sozinho em seu quarto, ao ver todos esses na tela do computador correu à janela,
e jogou-se do décimo nono andar