quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Brevíssimo dizer sobre símbolos musicais e Touros.



Ando muito calado, na verdade pianíssimo - que é quando só há sugestão de som: só os dois "p"s na borda da partitura indicando que alguma nota está sendo produzida, a gente é que não escuta por ser tão desatento ou pela sacanagem de quem está executando a peça - pois bem... calado não. Nunca. Muito menos instrumentista sacana. A música persegue seu curso no tempo e no espaço, ondas e ondas, pulsações até no espaço transparente do silêncio. Então não me despede essa vontade da palavra, seu gosto travando as mandíbulas, seus jogos. É fato estar com coisas entre os dentes e não dizê-las. É fato, é claro. Um dia aprendo a mastigar mais devagar as sementes insanas de meu tempo: quando esse dia chegar correr perderá a graça. Você vai me dizer: "Veja bem... preserve-se... cautela, meu caro" - eu responderei: "Sou muito barato, baratíssimo - valendo nada... nada não... passo sem ser anotado", se eu não quizesse o risco aí sim ficaria quieto na minha, fazendo versinho, lendo e afagando as bundas viradas pra lua dessa nobilíssima - novíssima?! (sic...sic...sic...) - literatura. Calar é risco também. A gente tem medo desse escuro: ali a palavra já passou do estado excitante de lâmpada-língua exploradora de bocas alheias para o de fera intraduzível espreitando do novelo inteiro das sombras algum pescoço para esmagar. Nem mesmo catataus podem significar defesa. Bruto esse silêncio, ardência na virilha ou na vigília de qualquer poeta. O jeito é jogar pedras até não sobrar espelhos na face do abismo, soltar a matilha entoando lamúrias, berrar e provar-se humano boca na boca rubra do touro engatilhado da linguagem. 

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