domingo, 13 de outubro de 2013

Passeio Público


I

Avenida,

 

Serpente em ebulição,

 

Zoom repintando

 

Na tela de cristal líquido

 

Escamas de dragão,

Lagarto em arco-íris,

Réptil ao vivo e a cores,

Sem vestígios de hemoglobina

Nas bandeiras fincadas

No relevo dorsal,

 

II

Avenida,

           

            Galho onde o camaleão equilibra,

 

Linha de passar a língua,

 

Eriçando as paredes em nudez

 

De arranha céu

 

Ali seus passos (Saltando

Para sala de estar via 3D

Junto com brasões indecifrados

Nas patas, nas costas,

Nos sulcos das costelas,

Entre as nervuras da pele,

Nas paredes das artérias,

No teto em rachadura do crânio,

Bem atrás das duas candeias)

 

São soterrados pela elipse

Na escala descendente

 

De

            Um

                        Grito
 
 
III

Avenida,

 

           

            Tarântula em carne viva,

 

Incêndio de patas semifusas

 

em rubato,

 

Bicho que manchando a lente

Das libélulas de aço,

Desconcerta o voo, diz farsa.

Distorce megapixels em sépia,

Mastiga um carro blindado,

Cospe um cadáver de olhos

 

Vazados

 

Por onde gotejando

O pus de toda cidade

 

IV

Avenida,

 

            Cobra de duas cabeças

 

De vidro temperado

 

            Pela areia dos poros,         pele do deserto,

 

Num megafone, meio de rua,       alguém ordenando:

 

“Grafitar o verso anterior nas sendas do corpo.

Depois os passos. A torrente dos fartos.

Gravar no asfalto a chama dos descalços.”

 

E o bicho enfia-se de cabeça

No ralo em redemoinho

 

Rumo à lama e às plumas de outra fera

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