segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Poema de quando vi um menino na rua II

Dorme.
um dormir claro,
como dormem as coisas
e nelas um relógio avaro.

Dorme.
o sol suspende-lhe
o meio-dia reto
sobre os ossos
e paira como abutre
velando a caça.

Dorme.
fechado em caroço,
exalando a ruína
na tarde da cidade.

Dorme.
incrusta-se
no branco de meus olhos
ignorando
meu espanto

e o silêncio do poema
apurando-se em sua sombra.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Tumbeiros

I
As horas se dissolverão
depois da linha do equador.
Num desvão soturno
olhos velam a espera.

II
A carne cala o corte.
Tantas mãos afagando
navalhas, no porão,
antes da âncora e do archote.

III
Indiferente ao traçado
de paralelos e meridianos
sobre a carta. O corpo singra
e sonha o dia da cova exata.

IV
Acender-se dói.
E eles com a treva costurada
ao corpo tendo que descoser-se
ao sol cru do porto.

Poema de quando vi um menino na rua I

Seu sono,
lâmina em meus olhos,
Derivando

na imundície da calçada

e ele
sendo apenas sombra apartada