sábado, 9 de março de 2013

Sobre calendários e Almas

Um amigo me falou sobre um congestionamento de almas nas proximidades do sítio dos Marcos aqui em Igarassu... sim um grande transtorno para quem tencionava comemorar um dia tão importante como este 09 de março, distante quase quinhetos anos de um outro dia comum com o mesmo marulhar de ondas, com som de pássaros e de folhas sendo remexidas pelo vento... sim... aconteceu um 09 de março maravilhoso para um bando de heróis que pisou neste chão com ordens reais nos bolsos e muito desejo de posse (diga-se direito legítimo de cobiça) no peito e nos olhos. Dia de sol e fim de espera, dia de grandes começos e progresso, uma dia único na vida de vários povos. Uma encruzilhada da história, um capricho do tempo em conspiração com o calendário juliano, uma ruptura na diacronia sempiterna e organizada de nossos livros didáticos. 
Hoje pra mim não é dia de festa... cada segundo desse dia deveria ser preenchido de versos para uma infinita elegia pelos milhares de corpos que o tempo devorou, oficial e sacrossantamente, a partir de um fatídico 09 de março. Não condenarei à mesma condição desterrada dos índios que não mais correm perto das águas aos distintos cidadãos que hoje dançam ciranda perto das águas ou tecem louvor à grande empresa lusitana... mas é uma pena que não lembrem...nem chorem... Dom Duarte e sua imagem severa e fascinante de soldado, administrador, déspota e herói épico de uma Nova Lusitânia que me perdoe a ousada investida destas letras mas calar dói muito mais que o desabafo...
Pois lembremos dos índios em seu congestionamento etéreo que eles devem ter lembrado de hoje também e vieram de onde quer que estivessem com seus corpos pintados de urucum, seus brincos e ossos e seu sangue de Uirapitang, suas feridas de mosquetes e bestas, suas chagas purulentas, seus pulmões podres de uma gripe sazonal inofensiva, seus olhos de indiferença perdidos num céu de araras e nuvens... Ah tantas almas voando enquanto muitos dançam e esquecem e desconhecem seus nomes. Comemoro hoje com marcos de pedra, lama e sangue o início de um genocídio... e espero que todas as almas organizem-se em fila indiana para seu passeio por aquelas bandas e voltem logo para seus lugares... afinal tem muita gente que deve estar louca pra fazer festa hoje e engrandecer grandes vultos de nossa história... neste grande dia de nossa vergonha... e pelo visto alma de índio só atrapalha numa hora dessas.

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