I
Produzir a manhã
em cristal exato
que condense
clareza e consciência,
percorrendo-a,
ir mais, além de sua essência
II
Tirar palavras do nada,
de uma presença vazia,
é menos que recortá-las,
manuseá-las frias
e domá-las, possuí-las,
violar e esquentar suas entranhas pias
III
Povoar de palavras necessárias
o verso, o poema, a poesia
povoar e anular
neles todo excesso e segredo,
toda brasa,
toda fuga, todo vôo
que não este,
sobressalto,
pássaro sem asa,
pedra no caminho
IV
Cada dia meu
é de se fabricar coisas,
elaborar, traçar linhas,
entretecer amanhãs,
fundir palavras em palavra,
lutas vãs,
tantas dentro de minhas horas
de suor e fazer
nessa oficina
onde espero
a luz higiênica de um sol
para queimar a mão suja
antes do escrever